quarta-feira, 2 de setembro de 2015

O processo de aprendizagem no mestrado

(ou "Porque você deve começar a aprender sozinhx AGORA")



Durante a nossa vida escolar ficamos acostumados com um modelo de ensino baseado na figura do professor(a): ele(a) é a figura que domina o conteúdo e nós somos aqueles que devem prestar atenção e aprender. Para potencializar o aprendizado, ele(a) deve usar técnicas que envolvam aqueles estudantes que preferem ler, aqueles que gostam de ver, o grupo da "mão na massa", etc.

À medida em que avançamos nos anos escolares, vamos ganhando mais responsabilidade. Quem se graduou em faculdades públicas conhece bem o sistema TV ("Te Vira").

No mestrado vejo a mudança radical. A autonomia deixa de ser uma escolha ou exceção para se tornar obrigação. O professor não é mais aquele que explica todo o conteúdo, a perspectiva histórica, as relações entre conceitos, etc. Ele se torna um mediador de debates, um questionador, um orientador. Você se torna, de fato, o protagonista de seu aprendizado.

A dinâmica da maioria das disciplinas no mestrado de Humanas é a seguinte (*):

  • Professor(a) indica leituras da próxima aula (alguns já indicam todas as referências no início do semestre);
  • Você lê (e relê) os textos, escreve um resumo dos pontos-chave, relaciona possíveis dúvidas e faz uma avaliação do texto, comparando-o com outros textos da disciplina, outras disciplinas, sua experiência pessoal, etc. Pode (deve?) elaborar questionamentos e críticas ao trabalho em questão, bem como suas aplicações e consequências;
  • Você vai para a aula: a turma começa revendo os pontos principais e daí vêm o compartilhamento e o debate de ideias, pontos de vista, autores, conceitos, etc (elaborados individualmente). O professor lança questionamentos, explica pontos obscuros, concilia pontos de vista divergentes, etc;
  • A aula termina e são indicadas as leituras da próxima aula.


Compreendeu o nível de autonomia? E ainda há os seminários, os artigos, etc.

Você faz o seu aprendizado na disciplina. Ela será tão boa quanto forem as suas próprias leituras e reflexão (não se trata apenas de memorizar).

Logo, a primeira coisa que um aluno de mestrado deve conseguir é "aprender sozinho". Isto envolve algo que comentei aqui, sobre descobrir como você aprende, seu ritmo, etc. Este autoconhecimento vai definir muito do seu desempenho no mundo acadêmico.

E não é apenas "aprender sozinho". É aprender sozinho através da leitura: embora filmes e documentários (p.ex) possam fazer parte das referências da disciplina, a maior parte do material é composta de livros e artigos. Logo, aprender lendo é um requisito para sobreviver.

Eu estou me reacostumando com esta dinâmica: ela exige tempo e dedicação, fora de sala de aula. Por isto é tão complicado conciliar mestrado e outra atividade - o tempo nas aulas é apenas uma pequena parcela do todo.

Então, fica a dica: acostume-se a aprender sozinho, e leia muito.
Ah, e recomendo utilizar alguma ferramenta como o Mendeley, que te permite criar resumos e comentários dentro dos próprios arquivos .pdf: é ele que está me dando uma força nesse início de 2º semestre.

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(*) Há exceções: disciplinas que envolvem Matemática e uso de software são algumas delas.

quarta-feira, 1 de julho de 2015

Você "só" faz mestrado?


E lá se foram 6 meses...

Quem disse que o mestrado passa rápido está coberto de razão.
Assim que eu entregar o último trabalho vou escrever uma recapitulação desse primeiro semestre. Por enquanto, passo aqui rapidinho para desmistificar uma ideia recorrente sobre quem "faz só mestrado".

Ninguém faz "só" alguma coisa.

Quem é "só" dona-de-casa se preocupa com feira, preparo de refeições, organização da casa, decoração, despesas, limpeza, etc, etc, etc. E nem falei de filhos.

Quem é "só" empregado tem que lidar com atividades diárias, projetos novos, imprevistos, relacionamento com colegas de trabalho e chefes, autoaperfeiçoamento e assim por diante.

Claro que há aqueles bem menos ocupados do que parecem. E também há aqueles à beira de um colapso por excesso de tarefas. O que quero destacar aqui é que a rotina de que tem responsabilidade com alguma coisa quase nunca é "moleza".

E qual a rotina de quem "só faz mestrado"?

Vou falar da minhas atividades neste 1º semestre:

  • Cursar disciplinas (Prioridade: MÁXIMA): significa estudar o material de referência (livros e artigos), pesquisar materiais extras (e estudá-los), escrever resumos/resenhas/artigos, preparar seminários, organizar trabalhos em grupo. Opções criativas envolvem fazer vídeos e encenar peças. No meu caso, foram horas com Bizagi e modelagem de processos (BPMN). Nota: estudar aqui é muito mais do que ler e memorizar. Exige reflexão, amadurecimento. Numa palavra: TEMPO;
  • Gerenciar a casa (Prioridade: ALTA): aqui em Recife estou morando sozinha, mas a situação de quem divide a casa não é muito diferente. Parece pouco, mas ter uma casa significa cuidar de feira (fazer lista/ir ao mercado/arrumar as compras), limpeza (varrer/lavar/arrumar), lavanderia (lavar/estender/recolher/dobrar/guardar), etc. Claro que este item é negligenciado quando entra em conflito com "cursar disciplinas". E vira prioridade máxima quando você recebe visitas (ver "relacionamentos"). Ou não;
  • Cozinhar (Prioridade: MÉDIA): eu me relaciono com fogão e panelas desde meus 12 anos, mas não sou nenhuma virtuose. Cozinhar é importante para economizar (comer fora é caro e o RU* tem sempre filas intermináveis...), para manter a saúde na linha (ganho peso só de olhar para a comida..rss...) e para relaxar (quando você não aguenta ler mais nada é bom trocar de contexto). E já que as refeições também são evento social, dá para reunir pessoas em torno de um bom prato. =)
  • Manter/criar relacionamentos (Prioridade: ?!?!?!): este é um ponto delicado para quem muda de cidade. Quem faz mestrado em sua cidade pode nem sentir diferença. Mas aqueles que se afastam ganham "dupla jornada": criar vínculos na nova casa e manter aqueles da antiga. Namoros presenciais se tornam namoros à distância. Nos períodos mais pesados do curso, infelizmente os relacionamentos acabam ficando um pouco de lado. Mas penso que eles valem todo o esforço extra: as grandes coisas na vida e no meio acadêmico vêm dos laços que estabelecemos. O que é uma conquista se não temos com quem comemorar?
    No começo desse mês veio para cá uma "caravana" de gente que amo: corri que nem louca para cuidar de tudo, em meio a entrega de trabalhos e prova. Valeu cada segundo! Sem contar nos amigos de turma, que vez por outra se jogam nos pufes infláveis aqui da sala para uma boa conversa =) Ou nos sofás por aí onde passo para tomar um café/vinho/afins...

E cadê a dissertação? E os congressos? E o grupo de pesquisa? E as submissões para periódicos? Para mim serão cenas do próximo semestre! Ou seja, vai ter ainda mais diversão =D

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* RU: Restaurante Universitário. Comida honesta a R$3,00. Há quem reclame. Eu estou viva e alimentada ;-)